Devemos aos antigos gregos a criação da palavra “Cosméticos”, ela deriva do verbo “Kosmein”, cuja tradução significa enfeitar, adornar ou embelezar, e.este verbo, aparentado na raíz com o substantivo “Kosmos” (mundo. Universo), já nos dá a idéia e entender o eterno desejo, aliás universal, do homem embelezar-se.
Também a palavra ginástica, deriva da língua grega de “gimno”, em pórtuguôs”nu” Já esta consideração etimológica, faz-nos ver, como era a preocupação e o valor que os antigos gregos atribuiam ao cuidado do seu corpo. Esta preocupação incluia sempre o cuidadoso tratamento do cabelo, como nos provam inúmeras estátuas e obras de arte de homens e mulheres, que demonstram tanto bom gosto e fantasia, que ainda hoje podem servir de modelo.
Infelizmente, porém nada ou muito pouco saberemos a respeito dos métodos que permitiram fazer os penteados muitas vezes artísticos mesmos, e como eles seguravam. Nas estátuas, estes penteados, se nos apresentam de rijeza ideal, mas na realidade, não eram tão corretos. Não raras vezes, como consta da antiga literatura grega, jovens passavam longas horas no seu cabeleireiro para pentear-se, frizar e perfumar seus cabelos. Esta vaidade, por vezes sem limite, tinha o seu significado especial, pois até se fala de concursos de beleza entre rapazes.
Outro grande povo civilizado da antiguidade, os romanos, por estranho que pareça, aproveitaram-se dos tratamentos do cabelo. Foi na fronteira dos seus territórios onde descobriu novamente o sabão, como nos conta, Plínio, o velho almirante romano, que correu o mundo, é autor da volumosa “História Naturalís”. E foi também aí, que encontrou provavelmente pela primeira vez, uma massa denominada “Sapo” feita do sebo da cabra e cinza de madeira de Faia. No entanto ninguém se lembrou de lavar-se com esta espécie de sabão. Pelo contrário, serviram-se dela para clarear, ou até corar os cabelos. O clareamento do cabelo, talvez por alcalinos ou outros ingredientes desconhecidos, levou as mulheres romanas de cabelos escuros, a mandar vir das províncias gálicas e germânicas, sabão líquido para os cabelos, ou bolas de sabão. É possível que um outro legionário, voltando das fronteiras bárbaras, trouxesse consigo tais sabões, para oferecer à mulher ou amiga. Esta viu-se então, horas e horas exposta ao sol. Debaixo de um curioso chapéu de palha propriamente dito, só era uma aba. O cabelo assim exposto ao sol deveria branquear-se, sem que o rosto se queimasse, pois uma palidez distinta, era mais apreciada pelas mulheres romanas, do que um moreno campesino. Marcial,o satírico romano, censurou num poema, esta correção violenta do cabelo, escrevendo a uma amiga: “Galha’. o seu toilete compõe-se de cem mentiras pois vivendo em Roma no Rheno enrubesce o seu cabelo. Mas em outra ocasião as palavras do Marcial representam até uma recomendação dizendo: Se você quer trocar os velhos cabelos, grisalhos, não entre porventura calva então tome as priu las dos “Mattiakeros”. Os Mattiakeros eram um povo que vivia ao pé do Taunus (montanha perto do Frankfurt). Também Ovídio, referiu-se ao “Sapo”, e escreveu que considera prejudicial o seu uso para o tratamento do cabelo, provando assim que já naqueles tempos remotos era conhecido o perigo de um conteúdo alcalino, demasiadamente alto de sabão.
SOBRE CABELOS
Os cabelos revelam muitas facetas da pessoa. Principalmente quando a dita é do sexo feminino. Cores e cortes facilitam a leitura do ser, assim como as roupas emolduram o corpo, enunciando significados. A omissão destes artifícios implica na obstrução do ver, inibindo juízos diante dos mistérios que a revelação esconde.
Cabelos são ramificações do “eu” que se derramam no exterior a partir da parte mais sensível do corpo. Dos cinco sentidos de que dispomos para experimentar o mundo, quatro restringem-se à cabeça. E o sexto deve andar por lá também. Apenas o tato é comum a toda pele. Provenientes de local tão visado, os dizeres que melenas ostentam são variados e complexos.
Podem comunicar virilidade e força, como no clássico exemplo do personagem bíblico Sansão. Como sabemos, o pobre é vítima da ardilosa Dalila, que surrupia seus poderes quando tosa-lhe os cachos.
Várias são as crenças que associam o estado monástico com cortes de cabelo. Nestes casos, podem representar uma ruptura com as percepções antigas, auto-imolação [sacrifício de iniciação] ou mesmo o desprendimento no tocante às vaidades.
Raspar a cabeleira também pode atender a alguma necessidade higiênica. Interessantes opiniões skinheads têm a oferecer neste sentido.
Seguindo a linha, podemos mencionar o episódio ocorrido no início do século XIX, envolvendo D. João VI e sua esposa, Carlota Joaquina, quando empreendiam fuga de Portugal rumo às paisagens brasileiras. De acordo com relatos da época, o navio que os transportava viu-se assolado por uma praga de piolhos. Sendo obrigada a raspar a cabeça para conter a propagação dos inconvenientes parasitas, Dona Carlota esconde a careca com lenços e lança moda em Terra Brasilis. Mas Carlota não foi exatamente uma pioneira. Já no Egito antigo a nobreza muitas vezes optava por raspar todo o cabelo e utilizar perucas em seu lugar.
E se o assunto é peruca, a monarquia absolutista sabe muito bem como não ficar para trás. O século XVII adornou muitas cabeças masculinas com perucas brancas e volumosas, enquanto no século seguinte chegou a vez das mulheres extrapolarem: os fios ganharam o complemento de passarinhos empalhados, miniaturas de caravelas e outros tantos, compondo verdadeiras obras arquitetônicas que poderiam chegar a um metro de altura.
Perucas são identidades cambiantes, por isso – em nosso imaginário – muitas vezes vêem-se atreladas à idéia da farsa, do personagem travestido. É complemento artificial [como se os outros não fossem…], o que leva o homem que, de repente, se descobre seduzido por um punhado de cabelos descompromissados a sentir-se ultrajado.
Isto porque cabelos femininos representam, em grande medida, sedução. Pode um homem sentir-se atraído pelo exótico brilho ruivo de misteriosa mulher ou adoecer de amores por nuances castanhas… O preto intenso pode hipnotizar seus sentidos e o loiro… ah, o loiro… Mas deve ser um tanto quanto desestabilizador perceber que o objeto de encanto e conquista não passa de… enfim, mero objeto.
Tamanho é o poder de sedução desta inigualável penugem humana que a história não cansou de passar tesouras a fim de punir prostitutas e adúlteras, além de fragilizar acusadas de bruxaria, como no famoso caso de Joana D´Arc [a donzela francesa, canonizada cinco séculos após tostar na fogueira]. Isto sem mencionar muçulmanos e judeus mais conservadores, que preferem escapar das tentações recomendando o uso de véus.
A História atribuiu aos cabelos o poder feminino de levar tantos homens a perderem o juízo. Nesta lógica, escondê-los é adequado, mas é preciso derrotá-los quando indômitos. Extraí-los equivale à violência de arrancar as presas de um leão. Jogar às ruas mulheres carecas equivale a expô-las à humilhação pública, frisando a verdadeira identidade que supostamente vê-se descoberta.
Mulheres e seus cabelos muitas vezes contam histórias de mal e perdição. Que o diga Medusa, a ninfa que a todos enfeitiçava com seus doces cachos loiros. A bela pagou caro por se meter com quem não devia. Segundo as más línguas, foi a deusa Atena, enciumada, quem transformou a poderosa numa megera de cabelo rebelde. No lugar dos fios, multiplicaram-se cobrinhas nada simpáticas que petrificavam quem as fitasse. Isto sim é que é um estrago. Perto de Medusa, uma cabeça raspada é até consolo.
Alguns dados sobre a histologia da arte do Cabeleireiro.
PENTEADO
Na época de Luiz XIV uma peruca de cabelos humanos, custava de 2.000 a 3.000 francos. Em 1671 uma peruquera francesa inventou um novo tipo de penteado que consistia em pentear com bucles, fortemente enrolá-los e frisá-los em volta da cabeça, a este penteado se deu o nome de Hurluberlu.
A côrte ficou indignada com aquela inovação. A Sra. Sevigne, que em sua carta de 4 de abril daquele ano descrevia de um modo minucioso, como algo pouco inteligente, estava indignada com aquela invenção, mais tarde quando viu a cabeça da Duquesa Sully, a condessa ficou tão entusiasmada com o penteado, que desejou ser penteada da mesma forma. Usava-se também adornar o penteado com flores.
Em 1760, iniciou-se uma variação; o cabelo se levantava sobre a frente formando um alto topete e caía por detrás das orelhas em largos bucles, e caiam macios sobre o colo. Os penteados mais sofisticados requeriam a mão de um cabeleireiro.
O primeiro homem a pentear senhoras em Paris, foi Mr. Frison e compartilhou a celebridade com Sarseneur e Dagé, este último, conhecido especialmente por ter negado a pentear Pompadour.
Segros(Paris) em 1765, publicou uma obra sobre a arte de pentear a cada dama, seguindo-se traços distintos de cada caráter e abrindo ao mesmo tempo uma academia dividida em três partes (classes) aos desejosos de instruir-se nos segredos do ofício, O famoso Segros foi vítima de uma catástrofe em uma festa dada em Paris na ocasião das bodas de Maria Antonieta.